Escritores da Literatura Marginal são repreendidos por venderem livros na FLIP 2012

Atualizado em 09/01/2016

Renan Inquérito na FLIP 2012

E a polícia, que deveria nos proteger dos “caras maus”, mais uma vez afasta-nos do progresso cultural. Tentando vender livros da literatura marginal na 10ª edição do Festival Literário de Paraty (Flip), a maior festa literária do país, Renan Inquérito e Rodrigo Ciríaco são repreendidos e quase detidos por fiscais e pela polícia.

Além de ser considerado um dos grandes eventos literários do mundo e trazer a Paraty/PR diversos autores mundialmente famosos, a FLIP considera a hospitalidade como um de seus principais destaques. Provavelmente, referem-se à hospitalidade da cidade, pois nos arredores da festa literária a realidade é outra.

Vendo pó! Vendo pó… Vendo pó…esia!“, bradavam os escritores periféricos Renan Inquérito e Rodrigo Ciríaco enquanto carregavam livros da nossa literatura marginal e recitavam poesias no “Sarau da Ponte”, nome que fazia referência aos artistas terem escolhido uma ponte no centro do festival para a ação.

Além de estar totalmente conectado com o propósito do próprio evento, o movimento parecia inofensivo e atraía diversos olhares curiosos. Entretanto, a polícia e os fiscais não pareciam pensar da mesma maneira: eles repreenderam Renan e Rodrigo por não terem autorização para venderem ali e também por exclamarem que “vendem pó”, como uma alusão à droga, e os ameaçaram dizendo que iriam apreender os livros que tentavam vender.

Engraçado, tínhamos a impressão que a cultura deveria ser acessível a todos e a qualquer momento. Mesmo partindo da premissa de que Renan Inquérito e Rodrigo Ciríaco não tinham o direito legal de estar ali vendendo os livros, a reação do evento/polícia é exagerada, beirando o inaceitável, ainda mais para um país que precisa tanto de ações como essa (o incentivo à leitura).

Os “representantes da lei” ainda dizem achar ofensiva a referência às drogas e nesse cenário até a resposta dos escritores, “Drummond, homenageado da Flip 2012, escreveu: ‘No meio do caminho tinha uma pedra’, ele estava vendendo crack?“, é desnecessária, pois se alguém acha realmente justo deter um artista por fazer um jogo de palavras claramente inofensivo, esse alguém mal deveria saber quem é Drummond.

No fim, seria muito melhor que tivessem deixado os representantes da FLIP/policiais levarem os livros: parece-nos que eles realmente estão precisando de uma dose de cultura de verdade!

2 Comentários

  1. Esses caras foram nada mais nada menos, vítimas desse
    sistema idiota. Nossa identidade cultural no Brasil está atrasada
    cem anos. Gostei do final da frase: “parece-nos que eles realmente
    estão precisando de uma dose de cultura de verdade!”

    Graone de Matoz, poeta, escritor e dramaturgo brasileiro

    • Verdade. É um peso e duas medidas… Aqueles que realmente deveriam tomar enquadro da polícia, nunca levam.

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