“Quando conheci o RAP, o Pedro Paulo estava fadado a morrer”, relembra Mano Brown

Atualizado em 09/10/2014

Mano Brown é, até o momento, a grande surpresa da nova edição da revista Cult. O especial de aniversário do periódico conta com o Racionais na capa e apresenta várias matérias sobre o grupo, mas a entrevista com o “líder” superou todas as expectativas.

Leia mais:
– Revista Cult disponibiliza vídeo da entrevista completa com Mano Brown;
– Dossiê da revista Cult descreve o Racionais como “último grande acontecimento da cultura brasileira”;
– Capa da revista Cult, “fenômeno” Racionais é discutido por especialistas.

Em uma entrevista completaça, Brown mostra um lado visto raríssimas outras vezes: o de Pedro Paulo. O rapper responde várias questões pessoais, tanto de antes de ser um quarto do grupo mais respeitado do RAP Brasileiro, como dos dias de hoje.

“Às vezes sim, mas o Pedro Paulo talvez não estivesse vivo se não fosse o rap, então também não posso ter essa ingratidão. O Pedro Paulo está vivo até hoje por causa de rap. Quando eu conheci o rap, o Pedro Paulo estava fadado a morrer”, respondeu ele sobre a responsa de ser Mano Brown. “Não tinha para onde correr. O crime já estava virando uma coisa normal – meus amigos faziam parte daquilo”, relembra.

Felizmente, o Racionais apareceu e toda vontade de adolescente de fazer acontecer pôde ser direcionada a coisas positivas. Entretanto, as coisas não melhoraram de uma hora pra outra. O rapper afirma que a coisa mudou só em 93 com “Homem na estrada” e acredita que poderia ter crescido mais profissionalmente.

“Era tudo muito turvo. Não tinha uma grande proposta que me confortasse. Tudo o que foi me oferecido ao longo da minha carreira foi perigoso. Não vinha dinheiro de uma fonte boa, tudo de fonte que eu não queria acumular”, contou. “[Hoje em dia] eu não penso na carga, no símbolo, no status de ficar rico. Mas sempre existiu essa possibilidade, e se eu não estou é porque não dei a atenção devida. Houve condições, mas não era aquele dinheiro que me orgulharia de ter ganhado”, completou.

Acusado constantemente de ter “se vendido” e de contradição, Brown parece bastante tranquilo sobre o assunto. Aliás, ele defende as mudanças de opinião principalmente porque tudo ao redor também mudou e é necessário continuar questionando.

“Todas aquelas ideias do começo dos anos 1990 foram muito importantes, elas são importantes, mas dali pra frente é cada um com seus problemas. Não pode ter esse negócio de grupo de rap ser ONG. A responsabilidade é de todos”, defendeu. O pensamento é o mesmo pras questões relacionadas ao PT. O rapper, que fez campanha para Lula e Dilma, diz não saber se reelegeria a presidenta e que não é mais uma prioridade votar no partido, como foi em outras épocas.

Aliás, o envolvimento com o PT fez muita gente criticá-lo e relacionar diretamente o Racionais com o partido; a questão é uma das grandes motivadoras de uma “treta” recente.

“Não esperava que viesse do Lobão, que era um cara que estava do mesmo lado naquela época. Eu não sei o que revoltou ele, com certeza não fui eu, não devo nada pra ele. Não faço parte do governo. Eu participei porque era prioridade para o povo negro que o Lula ganhasse”, explicou.

Leia mais:
– Mano Brown responde às críticas de Lobão: “age como uma puta pra vender livro”;
– “Afinei pro Mano Brown é o caralho”, afirma Lobão em vídeo que tentou censurar; assista!.

Voltando ao RAP, Mano Brown não falou só do Emicida, como já havíamos noticiado, mas também do “inteligente” Criolo e toda a ideologia por trás do estilo. Pra ele, o resgate “já está no trabalho”.

“A gente não pode esperar, por exemplo, que quando o cara do rap chega lá em cima, que ele vá olhar para baixo e começar a ajudar. Não tem nada a ver! Não pode ser assim, não deve ser isso. Tem que ser forte o bastante pra chegar lá também”, disse. “Houve um momento em que a ideia da ONG era prioridade, mas na melhor oportunidade, o mais rápido possível, tem que deixar de ser ONG. É questão de sobrevivência. É que nem o lance de cotas. É polêmico, mas fundamental agora. Um dia vai deixar de ser”, diria mais à frente.

E essa é só uma parte da entrevista. Brown ainda falaria sobre seus filhos, seu CD solo e o do Racionais, que virou prioridade, uma recusa ao Estadão (“Eu escolho com quem quero fazer e na época que quero fazer. Quando me é conveniente, eu faço”), entre outras coisas.

“Eu sou livre! Está fodido quem quiser me aprisionar. Quando falei que vou fazer soul music, vou fazer doa a quem doer. Não estou nem aí. Eu sou rebelado. Se falar de amor é rebelião, eu tô nessa, entendeu?”, finalizou.

Li no site da revista Cult e recomendo (MUITO) que cês leiam também.

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