Emicida faz show em Joinville/SC no lançamento do cd do grupo Versão Original

Atualizado em 02/01/2014

E eu nunca tinha ido a um show antes. E eu nem estou me referindo apenas ao RAP. Nunca havia ido a um show, independente do gênero. Talvez por ser do interior de Santa Catarina e não ter tido muitas oportunidades, ou, pelo menos, não ter tido as oportunidades que queria. Enfim, eu nunca tinha ido a um show antes, e era assim que precisava começar.

Conheci o trabalho do Emicida a partir de uma busca no youtube por “freestyle brasil batalha de rima”, no fim de 2009. Da admiração pela improvisação talentosa e cheia de conteúdo, nasceu a admiração pelas letras inteligentes, as citações pra vida toda, as mensagens, o aprendizado e todo o protesto de quem ama o que faz. Não é à toa que a primeira música que ouvi foi “Cidadão”.

Tava na hora de conhecer tudo de perto, sentir o clima da parada, ver qual era a real de tudo isso. Ingresso reservado pra pegar na hora, juntar uns trocado pro buzão e se jogar no mundão do desconhecido, porque ia ser tudo novo: a cidade, as pessoas, o show.

Emicida em Joinville

Quem já foi em um sabe: é quente! Um show de RAP não é apenas um show, é uma confraternização. O clima, a troca de ideias, as pessoas, a reunião de uma cultura inteira, parece aqueles almoços de família do “Poderoso Chefão”.

Sem contar que a ocasião era mais que especial. Além da presença do Emicida, um dos grandes expoentes da cena atual, tínhamos ainda DJ KL Jay, que dispensa apresentações, e o lançamento do segundo disco do V.O. (Versão Original), grupo de RAP local, motivo de toda celebração.

Quanto mais a hora se aproximava, mais a expectativa e a ansiedade cresciam. Mal eram 20 horas e a gente já tava na frente da casa que ia acontecer o baile. Trocamos uma ideia com outros presentes na espera, e isso me mostrou o quanto é fácil se enturmar e fazer parcerias quando a humildade prevalece na relação. Por isso as pessoas que vivem por isso, pela cultura de rua, usam tanto a expressão “família”, mas isso é assunto pra outro post.

O show foi muito louco! A gente tinha a informação que o Emicida entraria entre 1 e 2 horas da manhã, mais ou menos. Acabou atrasando um pouco, mas não foi problema. Claro que as pernas ficaram pesadas e as costas doeram, da viagem, de tanto caminhar pela cidade e por ficar em pé quase todo esse tempo, mas toda a emoção e satisfação de estar ali fazia com que “todos os problemas” ficassem pra segundo plano.

Emcida em Joinville

A apresentação do V.O. foi muito digna. Não tinha tido a oportunidade de conhecer o trabalho deles até aquele dia, mas levantaram a galera e esquentaram o lugar, com as músicas do novo cd e também com a participação de convidados. Emicida entrou logo depois deles (entre as 3 e as 3:30 da manhã) e depois veio o KL Jay, infelizmente que tenha sido tão tarde, muitos já tinham ido e não puderam curtir um dos maiores Djs brasileiros.

“Eu era um neguim, vendo tudo do lado de fora. Maravilhado com o baile, olha agora!” – essa frase da música “I Love Quebrada”, da nova mixtape Emicidio, representa bem como eu me senti durante a apresentação do Emicida.

Com duração de 1 hora, mais ou menos, ele cantou músicas de seus dois primeiros trabalhos: “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…” e “Sua mina ouve meu rep tamem…”. Impagável. Não só pela presença de um grande nome, mas pelo calor e vibração que isso passa pra todos presentes.

“Grana é importante, mas por que cê fez o seu primeiro show?”, tenho certeza que este é um dos grandes motivos:

A empolgação contida nas pessoas durante o show foi de outro mundo. Cantando junto as músicas do começo ao fim, levantando a mão, berrando, pulando. Toda dor do corpo desapareceu quando Leandro subiu ao palco e os “N” foram erguidos, a energia recebida de todos foi algo renovador pra mim. No momento eu lembro de ter pensado: “esse é o meu lugar…”

Eu pergunto pra você: em que outro gênero musical você veria isso? Essa integração do artista com o público. Essa visão reforça ainda mais a ideia de “família” que uns tanto criticam. Quem vê de fora diz que o RAP tá morto, quem tá dentro acredita que essa é uma das melhores fases. O RAP não é estar na mídia, o RAP está nas pequenas coisas, nos detalhes, no sentimento de quem o vive.

Um comentário

  1. 29/10/2010
    Responder

    Mto legal a resenha, parabéns. Durante esses 4 últimos anos venho acompanhando os os trabalhos do Emicida e posso dizer que esse cara parece não ter mais limites. O rap agradece

    “Um só caminho”!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *